Pesquisar este blog

sábado, 26 de março de 2011

O sexo do ENEH


Todos os anos, dezenas, centenas, talvez milhares de jovens de diversas faculdades ao redor do país se reúnem em eventos estudantis. Importantes balizadores da convivência estudantil, a função primordial dos eventos estudantis é promover a interação da comunidade acadêmica e a juventude com a realidade de cada região,seja estadual,regional, nacional ou internacional, por intermédio de debates intelectuais e discussões políticas as mais diversas.
Sendo assim,as festas, tal como as passeatas e manifestações políticas diversas (e aqui não discuto o mérito das mesmas), cumprem além dos seus objetivos partidários imbuídos em seus discursos, importante intermédio entre a juventude.Entretanto, de que forma essa interação tem se desenvolvido em termos de relacionamentos sentimentais?
De certo, nós estudantes, temos nos caracterizado pela plasticidade no trato das relações humanas.Tal como pressupunha Zygmunt Baumman, nos seu magistral livro Amor Líquido, levamos nossos sentimentos e nossos corpos numa esfera fluídica, plásmavel, em que a satisfação imediatista nos leva e nos move para nossas necessidades mais básicas.Porém, a forma como é tecida nossa sexualidade nesses eventos costuma guardar um que de irrealidade.
Costumamos construir os mesmos em redes virtuais. Em seguidas planejamos os encontros (e os desencontros), e tentamos então fazer o consumo de nossos sentimentos.A grande questão é que ao contrário das redes, não somos virtuais,e a virulência de nossos sentires é tal, que a virtualidade do sujeito nos deprime.É fato,a distância contribui para isso: Ela nos dar a sensação da falta de compromisso, mas nos enrreda com uma teia que nos permite uma fuga do real através da paixão.E assim ficamos numa dialética entre nos comprometes e não nos comprometer.
Nos planejamos para o grande dia: Nutrimos expectativas, sonhos,desejos.Violentos, muitas vezes nos consomem e cresce intestinamente como tumores.Benignos?Malignos?Que importa?O que importa ao amante é o encontro com seu objeto amado.Os desacordos,as desharmonias na nossa vida intíma são colocados em segundo plano.E vêm-nos a recompensa,se tivermos a sorte.Se não,advêm a frustração pelo adiamento do inevitável (?) encontro.E aí se dá dois finais: A decepção ou a satisfação.
A primeira pode ser rápida ou demorar, mas sempre é imediata: Ao nos confrontarmos com um construção que não se encaixa em nossas expectativas, tentamos o quanto podemos, enquandrá-la dentro de nossos esquemas.Porém, o mundo não é como queiramos,e daí vêm os inevitavéis conflitos.Que geram a tristeza, que é (mal) remediada por um outro imediatismo,via sexo.O esquecimento,nesse caso, é apenas uma convenção, um lapso,do qual recebemos como compensação.Quase uma dádiva.E o tempo nos dirá se iremos rir ou não disso em alguma conversa de chat.
A segunda costuma ser cruel e lenta.É um câncer.E como tal se alimenta e se nutre com os sucesso,lembranças e sentimentos que presenciamos.Vivemos o momento como único.E ele realmente o é, de fato.Daí a sua fragilidade: Quando não nos tornamos ansiosos, esquecemos da realidade que espera nossa volta.Então,quando o tempo passa, e temos que arrumar as malas,em algum momento vem as perguntas:Será que poderei viver isso novamente no meu retorno?Será que o reencontrarei e teremos o mesmo laço?Será que conseguirei viver sem isso?
E retornamos.Mas,não retornamos de todo.Algo se perde,se vai.Mudamos.E aí,finalmente,vem as dores do tumor.E elas são inerravéis.Porque vem do nosso mais intímo recanto.A saudade,a falta, nos consome.Se temos como manter contato,faremos de tudo para o manter.Se não tivermos,nos distaciamos de nós mesmos.O real se torna apático.Chapado.Sem graça.Morto.
E dai,temos que finalmente lidar com as consequências de nossos atos.A fatura pode ser alta,dependendo de como agirmos.Mas sempre vem.E como sair disso?Bem,depende de cada um.De certo não há uma resposta satisfatória.
Passemos então para o outro lado, o lado das relações puramente sexualizadas. Nos eventos estudantis existe até uma tipificação de correspondentes sexuais:A regionalidade sai da esfera política-cultural própria de seu meio  e vira fetiche, consumo, mercadoria. Todos queremos consumir "bahiano","cariocas","pernambucanos" e etc.É um escambo,oferecemos a "mercadoria" de nossas experiência, e vemos se o freguês compra.Ou a "propaganda" da nossa regionalidade (cariocas dos x´s xiados e malandros, bahianos negros e sensualizados,pernambucanos fogosos...).Não os procuramos pelo que eles são, mas pelo que eles podem corresponder com as nossas expectativas.Puro turismo sexual,em nada difere da prostituição propriamente dita,a fora a reciprocidade das trocas (afinal cada um quer comprar e achar o que quer, se os interesses se casam,menos mal...).Primeiro a embalagem depois o contéudo.E em seguida,o descarte.Isso é válido para os sexo.Costumeiramente é assim que agirmos.
A mulher, como fica?No discurso ela é livre para demonstrar sua sexualidade, mas na prática deve passar primeiro na minha barraca.É um caso clássico de hipocrisia:Elas podem fazer o que quiserem,desde que seja em prol do ego do/a amante.A aprovação é egoísta.O comportamento promíscuo é incentivado e até esperado:Que decepção nos é,ver que aquela mulher não faz sexo!Ou é hétero!Ou pior,virgem!Em eventos estudantis pode tudo,fora deles não.Lá elas podem beijar e durmir como quiser,a consciência é desligada.E depois de nos satisfazermos, ela vira a vagaba,a puta, a que não vale apena de namorar,só pegar.Peguete de evento.E como tais tem que aceitar tudo:Ménage a tróis (com outra mulher,homem não admitimos afora se o cara for "gay"), sexo anal e oral,são praticamente dogmas (só o "papai e mamãe" não dá!).Que nos importa se tem namorado ou namorada?O problema não é nosso, é deles.É o que todos dizem as escondidas:Queremos que elas sejam vulgares, mas não temos peito para sustentar as escolhas que elas fazem.É assim que mesmo após a revolução sexual, a mulher continua sendo oprimida sexualmente.
Então vejamos a questão do gênero. O que se torna o gênero se não em uma forma de consumo?O Bissexual é figura destacada aqui: Ele abre a possibilidade para a experimentação,a fuga do convencional,e o consequente desprezo ao sentimento.Afinal,quantos tem a coragem realmente de se relacionar fielmente com o bissexual?Tendemos,na hora H a voltar aos esquemas heteronormativos.O Gay aqui é o "marido de evento", "o amante de evento", o companheiro de aventuras (como o toddynho),fora disso é "amigo".Homossexualidade?Não, é diversão: Homens desfilam trejeitos e preconceitos no ENEH gay para mostrar a sua "não-Homofobia" reproduzindo os velhos estereótipos de nossa sociedade machista,sob aplausos e apupos de meninas travestidas de homens (e caricaturando o sujeito masculino,e o lesbianismo) e de outros homossexuais,que com certeza se divertem com o rídiculo da situação.Como se vestir de mulher/homem nos tornasse mais tolerantes,se isso fosse verdade,não teriamos tantos casos de estupros e abusos machistas no carnaval...Acabou a fantasia, acabou a festa.
O componente racial é sutil,mas está lá: Morenos e negros=sexo. A falocracia (ditadura do pênis) se exarceba: Tem que ser grande, grosso.Ou ela tem que ser safada.Não há opções, é obrigação da raça.A cor é um fetiche, e todos nos tornamos cordiais tal como os senhores de engenho de Casa Grande & Senzala.A suposta democracia da cor unida a ditadura da sexualidade.Pegar um negro ou um moreno nos torna automaticamente tolerantes racialmente, da mesma forma que pegar um gay, um bi ou uma les nos torna tolerantes com o gênero. 
A opinião política então,é outro fetiche: Se não corresponder ao esqueminha partidárista,libertário e clichê dos esquerdismos...quem tem barba,jeito intelectual é cool.O comum é apenas cu mesmo.
O sexo é viciado, como dados.E perdemos: Tal como observou os historiadores dos Annales,a pobreza de experiência torna o ser humano pobre de futuro.A libertinagem de fato é uma expressão da nossa individualidade e livre-arbítrio,e de fato como tal deve ser respeitado.Mas,que é lamentável a auseência de contéudos mais profundos,ísso o é.



2 comentários:

  1. Além de escrever muito bem, vc "disse" aqui o q 99% das pessoas que frequentam esses encontros pensam, mas q só 1% teria coragem de admitir. Congratulações!

    ResponderExcluir
  2. Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

    Mario Quintana (Caderno H)

    ResponderExcluir