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domingo, 16 de setembro de 2012

Herpes ou o silêncio da escrita

Estou doente.Não dessas enfermidades que chegam e de repente se instalam.Não,não é disso que escrevo.É outro tipo de mal.Silencioso,secreto.Deixa as gavetas arrumadas, as roupas no lugar,os livros nas prateleiras. A comida posta na mesa, as fotos guardadas em envelopes amarrotados,rotas folhas de papel,secas pelo manuseio,amarelas pelo tempo.Se cai sobre as conversas, se manifesta em arroubos,se sentem em tempos,e desassombros.Se encontra no sono tranquilo e no desasossego.No português sem erros, na missíva que demora a chegar. A viagem que ficou marcada, o dinheiro reservado para a despesa a ser paga. A fila do caixa. O cartão da loja,a companhia solitária.A sexta-feira com suas paradas.Não tem mais beijo,os sanduíches, as conversas.É de se passar mal, é de se estressar, é de ver herpes labial estourar.A única coisa que se manifesta,quando o sentimento e o escrever se calam é isso...uma putridão que impede o beijo.
Já?Para alguns, é surpresa o que escrevo.Não,é mais triste,não sei quando escrevo.Se amanhã,se antes,se depois.O que não conto é que de modo algum se consegue escrever sem se dilacerar um pouco de si.É macerar, cortar,tentar definir o sentir pelas letras.E oferecer,a alguém que não se conhece ou se imaginar com alguém a ler e entender, o que você espera que já tenha sido entendido. É como menina que diz baixinho,indiretas,músicas,e você tenta entender,e fica sozinho.É ver os olhos cruzarem esperando resposta,e você não saber.É tentar dar abrigo,e o outro sentir solidão. Talvez,se aproximar do que te matou,se deitar novamente na cama de quem há muito havia sido promessa e amor.É segurança,é afeto,é isso mesmo?
Mesmo.Sempre.Invariável.A monotonia nos sufoca,mas quando fugimos dela,que falta nos faz.Não dá para salvar ou publicar.Ocorreu um erro em sua postagem.Tente novamente.Ignore o aviso.Já 01:51 de Domingo,e o tempo contando,logo será dois sozinho.  O tamanho da fonte é normal.A fonte secou,se cava no chão a lama que restou.Na terça-feira,tem Gabriela.Na madrugada tem Jô.Na quinta,Grande Família.Na sexta,o Globo Réporter.Só não vejo,Amor e Sexo,nos meus olhos.
Tem gente durmindo,tem futebol no domingo.E distante de mim,tem um corpo deitado na cama que não vejo.Chorei por minha mãe.Por meu pai.Até por amor.Jamais por mim mesmo.É perto de 25 anos,e quando outubro chegar,com as contas que terei que acertar com as minhas ambições pergunto a mim mesmo se haverá substituto para mim na quarta-feira.Porque eu preciso ser substituído na vida de uma empresa,como na vida de alguém.Na sexta,terá coral.Na terça,Pernambuco.Na quarta,o se fará?
Eu a trouxe de volta a minha rede social.Ela se aproxima,como tempestade sob o deserto da Austrália.Uma única,monolítica e dolorosa nuvem de chuva,silenciosa.Caíra com a força dos ventos,ou será apenas ameaça?Haverá orixás,santos,e afastamentos de corpo.O último tango de Paris não se ouvirá tocar.
Vai começar,mais uma semana.

Um comentário:

  1. Adorei sua escrita. É dilacerante.
    A começar pelo título: Herpes ou o silêncio da escrita, se tem algo que sua escrita NÃO é , é silenciosa.
    Ela grita alto.

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