[03:31] Diego: como seria sua vida sem saber ler?[03:31] Joyce: naun seria vida[03:34] Diego: pq[03:34] Diego: ?[03:35] Joyce: pq naun ia ter comunicação [03:36] Joyce: um tipo de comunicação universal
Hoje, eu conheci um menino triste.Foi no meu trabalho, cheguei na empresa debaixo de chuva.Uma tempestade que dura quase três dias.Logo no início, o meu chefe falou de um pai, que irado, tinha o procurado com a alegação de que eu não tinha dado aula a sua filha.Me surpreendi:Ela é a minha melhor aluna, e no dia, estava tendo aula comigo. Ela havia levado uma revisão de 18 perguntas sobre a Antiguidade Oriental (Índia e China), e têm notas excelentes, tranquilamente, se sentou e começou a fazer sua revisão, enquanto outro aluno meu tinha um reforço de geografia comigo (Divisão regional do Brasil e Amazônia), para se preparar para uma prova. Nesse meio tempo, chega o meu chefe e diz que um aluno iria para mim, só que estava sem livro. A menina. que era da mesma sala que o garoto e filha da diretora do colégio, disse que o mesmo era terrível (e ainda se referiu a um que eu conheci como sendo pior ainda), mesmo assim recebi o aluno.
[03:31] Diego: como seria sua vida sem saber ler?[03:32] Mellissa: completamente oposta a que vivo[03:32] Mellissa: rsrsrs[03:34] Diego: pq?[03:35] Mellissa: pq se eu n soubessee ler consequente n saberia escrever ,e faço isso a maior parte do tempo
Esse aluno foi bem em minha aula,apesar de não ter feito no colégio a revisão, consegui conversar com minha outra aluna para emprestar o livro dela e o caderno para que ao menos fizesse as quatro primeiras perguntas (copiar as perguntas, depois ele faria a pesquisa sozinho). Entretanto para a minha surpresa a menina emprestou seu livro e até deu as respostas,só faltou uma pergunta apra ela responder.E aí, chega em casa irada e diz que nçao estudou!O meu chefe explicou,e disse que infelizmente a menina era um tanto quanto egoísta,fiquei triste, porque não dividir um livro é como não dividir próprio ar.Entretanto, algo mais triste viria a mim, na forma de um menino.
[04:08] nanda: bem complicada[04:15] nanda: pq eu seria completamente dependente de outras pessoas
03:27] Diego: mas,ívila,vc ja imaginou sua vida sem saber ler?
[03:27] Ívila Renata: seria [03:27] Ívila Renata: sem sentido praticamente[03:27] Ívila Renata: amo literatura
[03:27] Ívila Renata: seria [03:27] Ívila Renata: sem sentido praticamente[03:27] Ívila Renata: amo literatura
Ele entrou na sala semivazia, se sentou,e apenas disse seu nome. Era moreno, por volta dos seus dez ou onze anos, cabelos lisos curtos e expressivamente olhos castanhos claros.Eram lindos, e distantes.Está na sexta série de um colégio particular.Ele me disse isso:Apenas seu nome.Em uma hora e meia de aula,só escutaria duas palavras dele.Não mais que dez ou vinte palavras, se não me falha a memória.Era quieto, silencioso, demais. Como se houvesse um mundo dentro dele, que só ele sabia, mas, ele me via sabia da minha existência e interagia comigo. Me mostrou o seu programa de estudo para a prova, apontou e falou o que ia cair.Começamos a estudar.
[04:04] Diego: como seria sua vida se vc n soubesse ler ou entender a escrita?[04:05] rosimario: ñ faço a minima idéia[04:05] rosimario: como eu gosto de ler[04:05] rosimario: no monimo seria chata[04:05] rosimario: mas pra uma pessoa q ñ sabe[04:06] rosimario: ela molda a vida dela sem depender disso
O assunto era fácil: Mesopotâmia e Egito. O livro, apesar de considerá-lo fraco (pra não dizer, ridicularmente fraco), tinha o mérito de ter uma linguagem simples e direta, além de bem enxuto no conteúdo (até demais para o meu gosto). Pedi que lesse, e descobri que seu nível de leitura era equivalente a de uma criança de seis anos ou quatro anos em período de aprendizagem da leitura.Perguntei se ele havia entendido o que leu,apenas moveu a cabeça para os lados dizendo que não. Pedi que escrevesse, fizesse exercício, ele copiou as perguntas, ainda que com os típicos erros de ortografia (apesar da bela e surpreendente caligrafia), no entanto não conseguia entender o que lia, nem suas próprias palavras escritas.Nada, absolutamente nada, ele entendia.
[04:04] Diego: como seria sua vida se vc n soubesse ler ou entender a escrita?
Ele estava ali, eu sabia disso. Ele me entendia, ele escrevia, ele lia ainda que com muita dificuldade. Mas não entendia um simples texto, nem mesmo aquele feito por si próprio. Não havia vivacidade no olhar, como se não tivesse sentimento. Como um autômato, escrevia. Mas Ler e Compreender? Uma ordem escrita, uma pergunta, nada. Era um vázio que não se fazia vázio e que, no entanto, não causava nele nenhum embaraço ou desconforto aparente, só uma silenciosa indiferença expressa em olhos vividamente castanho claros. Olhos que demonstravam não fazer a mínima idéia, aparentemente, para que serviam. Seria sua timidez? Não, não era isso, já conheci alunos na minha banca de estudos com os mais variados graus de letramento e sociabilidade, entretanto, jamais havia visto algo como isso. Ao término da aula, não consegui trabalhar os dois capítulos com ele, e ele se foi, sem dizer nada, calado. E aqui eu fiquei, com uma tristeza, uma solidão, tamanhas que tive internamente a vontade de chorar.Pode ser exagero meu, mas aquele menino lembrou-me de um tempo em que eu era assim.Um tmepo de gardenal, um tempo de psicológas, psicoterapeutas, de inadequação social. De falhas de comunicação, de solidão.De um menino triste.
Eu procurei uma amiga em específico para falar sobre isso.Uma mulher de letras, poetisa, lunar. Ela não respondeu. Então fui falar a uma beleza selvagem maranhense, e ela tão pouco soube me dizer.Depois falei a outros tantos pela net.E essas foram suas respostas, que as coloquei ao longo desse texto. Por que ainda assim, sinto esse vázio? Porque para nós que lemos é tão difícil o entendimento sobre isso, a não existência da leitura?Nem mesmo a menina cuja a mais vivída inteligência admiro conseguiu me responder, uma Alice tão bela, a minha Doroth, que acreditava poder me responder apenas disse:
[04:04] Diego: vc conheceu algo assim antes?[04:11] Mellissa: não
Dislexia? Autismo? Timidez? Analfabetismo? Indiferença?Estranhamento?Não sei. Entre as suspeitas ventiladas em mim, tanto pela minha mãe quanto por amigos, de resto me ficou uma sensação, uma apreensão dessa "Tábula Rasa" Lockeana, esse pesadelo de Rousseau, Paulo Freire e tantos outros luminares da educação.O silêncio. Apenas ficou em mim a tristeza, o vázio. E a percepção após a leitura de uma reportagem da Veja que exaltava a nova geração de leitores de nosso país, que aquele garoto de alguma forma não professavam essa religião, essa paixão, esse amor que é a literatura. Temo que sua nota seja vermelha, e que mais uma vez os avisos que dei no trabalho sejam ignorados em prol da minha suposta "inapetência" para lidar com aquilo. É essa a verdadeira face do analfabetismo dito funcional: Para mim, um jovem professor em início de carreira, ele terá sido apenas mais um menino a passar por mim. Mas nenhum menino será tão silenciosamente parecido com o BRASIL.
Imagens gráficas (postêres) de Andrzej Pagowski , fotografia tirada da internet.
Diego Costa Almeida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário