Eu entro em um salão dourado, sendo conduzido pelas mãos por Anúbis, o cão deus com cara de chacal protetor do reino dos mortos,e sou levado apresença da balança da justiça de Rá,o deus sol, onde Tot, o deus com cara de íbis e escriba lerá o texto dos meus feitos e vida, e comparará a pureza do meu coração com a leveza da pena de um avestruz. Se meu coração for mais pesado que uma pena,a deusa Mâat da justiça, na sua terrível personificação de face de crocodilo, patas dianteiras de leopardo e patas traseiras de hipopotámo, devorará meu coração e me levando diretamente aos reinos sob domínio de Set, senhor dos infernos.Enquanto isso, em uma sala oculta a mim, em frente está Hórus,que guarda os portais que levam a seu pai Osíris, senhor do submundo,e que dirá meu destino daqui para frente.Só o conhecerei se meu coração for mais leve que a pena de avestruz.Enquanto isso,os olhos de Mâat repousam sobre mim, me fitando pacientemente,a espera da ordem:"Agora,é o seu jantar Mâat...".Assim está escríto numa das estrofes do Livro dos Mortos, do Antigo Egito.
É fato inconteste que durante mais de dez anos de minha vida, nunca consegui atingir o equilíbrio da balamça de minhas emoções. Não fui bipolar:Pois estes ao menos têm um pêndulo mais seguro que o meu.Considero algo mais grave: A fraqueza nas decisões, e talvez, quiçá, do cárater.Os famosos culhões de homem, que todo garoto em algum momento tem que ter para dizer de verdade que é Homem, com o sentido do H maíusculo, independente de sua opção sexual.
Frequentemente, ao contrário do que diz o perfil clássico dos escorpianos, diante de algo que mais escapa ao controle, me torno fraco e perdido.Simplesmente, não sei como agir,e me perco.Mais do que isso, se faço uma ação,ela será de forma irrefletida, e de consequências desastrosas.E quem sofre com isso,sou eu.Eu sou minha própria Mâat, que era a palavra que os antigos egípcios utilizavam também para "JUSTIÇA".
Certa vez,escrevi nesse blog, que os filhos de Xangô, senhor das tempestades e da justiça, não tinham a misericórdia do pai:Ele cobra, e pesado, pelos nossos atos.E eu,mais do que qualquer outro, me cobro sem pena de mim (trocadilho infâme), e quando faço um ato falho, os olhos de Mâat brilham de dar gosto...
Foi o que aconteceu ontem comigo.Estava em meu trabalho,dia normal, e recebo um aluno.Esto preparando ele há algumas semanas para sua prova de recuperação em História, que ocorrerá na próxima segunda - feira. Eu fiz um programa de estudo com ele, em que terminado todo o assunto (Homem primitivo, Mesopotâmia e Egito Antigo),faríamos a revisão do colégio dele, na sexta-feira, deixando um material preparado para quando ele for estudar no fim de semana (apesar de ele não mostrar em casa a mesma dedicação da aula...).Estavamos no último assunto, Egito Antigo, e havia dispensado outro aluno apenas para estar com ele (a prova do moleque era dia 8, o meu era dia 2 de agosto).Lá pelas tantas, meu chefe, "Os olhos de Mâat", vem até mim e me pergunta se o garoto havia feito a revisão.Na primeira vez,eu disse que ele havia perdido a ficha (o que era verdade:ele tinha duas, uma ele me entregou, e perdeu a outra a qual tinha dao ordem de já começar a fazer, a qual dei uma bronca), e que faríamos depois.Ele se cala, inquisitorialmente sobre mim, e me pergunta "Ele tirará dez?", ao que respondo honestamente, "Só dependerá dele"...meu coração sobre um dos pratos da balança...
Outro tempo depois,ele sobe, e me pergunta "Ele fez a ficha?", e vejo uma pena de avestruz sobre o outro prato da balança: num desastroso ato falho meu, sem nem refletir, eu disse candidamente (com vários pingos de nervosismo) que "sim", quando na verdade a resposta deveria ser um sonoro "NÃO!".Por que diabos eu falei sim, meu Deus?Menti descaradamente na cara de um aluno e de meu chefe ao mesmo tempo!Havia pessoas na sala, e se não bastasse isso,ele me pediu que eu mostrasse no caderno a revisão...e lívidamente branco,mostrei desastrosamente as folhas em branco (que estavam preenchidas com a revisão que estava fazendo com ele,não as respostas)...ao qual ele pegou,e disse "verei eu mesmo".O bafo de Mâat sobre meu cangote...
Longos minutos de angústia...ainda desci para tentar falar com ele,ao que ele respondeu,"suba!".O menino havia descido.Não aguentei e chamei a parte um colega de confiança para contar o que aconteceu.Depois, o garoto sobe e pergunto se estava tudo bem (obviamente era para mim mesmo), e ele disse exatamente o que eu havia falado a ele no início da aula (a parada da revisão no último dia de aula),e me vi bestamente pego pelas minhas próprias palavras.Peço desuclpas ao garoto pelo que ocorreu,nem por isso sinto meu coração mais leve...
Dando a hora do fim do turno,professor sobe,desliga o ar-condicionado e diz "amanhã,eu ligo para você ou converso com você "(ele disse ao garoto que ele teria na terça-feira duas aulas seguidas).Ao encerrar tudo,quando só tava eu e ele tentei me desculpar ao que ele disse "o problema é que você só faz as coisas como você quer, pensa que aqui é a casa da mãe Joana...".
Desci,tentei falar com o meu amigo,ao que ele disse que ia sair,e iria tentar falar sobre isso com ele.Não estou mais tranquilo,sei como são os olhos de meu Mâat.E depois de ir na Lan House,chegar em casa e durmir cedo (laconicamente), acordo as quinze para seis da manhã de terça-feira, com distonia e a sombra da palavra "DEMISSÃO", rondando os meus agoras tensos ombros. Minha mãe a essa hora já desconfia de algo errado, quando descer para tomar o café daqui a pouco ela saberá. Eu amo o que faço e sei de minhas fraquezas, mas não posso me derrotar por elas, tenho que buscar sempre o equilíbrio, e acho que esse é um longo processo necessário que só há pouco tempo e tardiamente comecei.Tenho medo sim perder meu emprego,mas, também sei que devo carregar as consequencias de meus atos e que seja assim por justa causa. Se para aprender mais uma lição da vida, que aconteça isso ou o contrário (de preferência).Daqui a pouco saberei se meu pendor dramático é justificado, então como não posso chorar no leite derramado, só resta orar e confiar a Deus.Enquanto isso,espero o julgamento da balança de Rá, onde a pureza do meu coração será comparado a peso de uma singela pena de avestruz (símbolo de Mâat),sendo o mesmo observado pacientemente pelos famintos, caprichosos e pesados olhos de Mâat, senhora da justiça e que controla a balança de Rá,o justo...
... e que ela tenha piedade sobre o meu ainda fraco coração.
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