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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Egoísta (Cangaceiro de mim)


Dois Navegantes , Ave Sangria.

Eu não sei escrever.Não sei dizer coisas bonitas nem oferecer flores para adornar jardins.Na verdade,odeio blogs.Perdi a beleza, a poesia e todo o amor que eu tinha  de mim mesmo e do próximo, ano passado.Que aliás nunca tive, nunca me pertenceu de fato.As palavras são cruéis:Nos obrigam a exprimir em poucas linhas todo um turbilhão que se esconde dentro de nós.E quando a materializamos, elas ganham uma vida que não nos pertence, pensam por si,e voam longe demais para alcançá-las.Como pombos assustados por alguma criança no pátio de São Pedro.É, disso que no fim das contas trata a arte de escrever: Tentar organizar e exprimir algo que não pode ser expresso,só sentido.
Na verdade, eu não queria escrever.Eu sou forçado a escrever: Os textos saem de uma inquietude minha que os faz jogar de imediato nesse espaço,com uma agonia desabalada.Não me sinto em paz com isso,na verdade queria parar.Queria viver e sentir o que escrevo.Não consigo falar de amor sem sentir um gosto amargo de ódio.Não consigo falar da condição humana, sem ter uma descrença na raça Homo Sapiens. Tive que aprender novamente a viver sozinho e suportar a eterna condição de ser uma sombra, de nunca pode de verdade ser algo para alguém.Ou para um certo alguém.É companheiro, isso tudo nunca vai sumir: Vou sempre ter dois dedos de cólera guardados num copo de Whisky escocês com gelo.E cada setembro passará por mim como um punhal,enquanto para outro será de boas  e ternas lembranças.
E um "eu te amo" guardado em cada texto não entregue,mas expresso com tanta convicção que merece aplausos, de Romeu e Julieta...
Por isso, é fácil concluir que...
A minha vida é uma merda, uma grande bosta...
...E ainda tem gente com a cara de pau de dizer ou aventar a hipotése de que eu me acho superior!Rá,acho graça e nem respondo a isso.Porque eu não sou:Divido a mesma carne e o sangue que muito mortal mesquinho, narcisista, egoísta , mas, nem por isso sou igual a qualquer um.Essas marcas,essas digitais,esse DNA,me tornam diferente e igual.Em termos genéticos,sou quase tão parecido com  um verme plantelminto quanto com o meu vizinho.E ainda assim,não sou filho de nenhum verme,nem até que se prove o contrário, um bastardo.Continuo um reles filho de aposentado.
Odeio escrever.Não suporto a idéia dos elogios dizendo que escrevo bem e blá blá blá.Sempre procurei defeitos, críticas e suspeitas.Nunca me achei confortável.Tá nem sempre sou assim:A vaidade ás vezes fala mais alto. Vanitas, vanitatum.Sou humano, infelizmente, apesar de me esquecer disso de vez em quando.É porque,nem sempre é fácil viver como se tudo começasse de novo e, tudo seria mais simples se eu pudesse "deletar"pessoas,sentimentos, lugares.Esquecer.Simples assim,não se importar com saudades alheias nem com pensamentos auto-destrutivos.Enfim,ser o bom e velho Diego que eu era.
Egoísta.A vida era solitária, odiável, insurportável.Mas não precisava amar, nem sentir saudade.Era só ser infantil, isolar-me em meus livros, afastar pessoas "ameaçadoras" de minha ordem normal, e tudo estava resolvido.Não precisava nem ter uma definição sexual: Sexo,opções,tudo isso era coisa de seres que precisavam de outros humanos.Eu não precisava de ninguém, nem de ser hétero, bi ou gay.Só precisava estar com um livro,tempo e música.Odiava os humanos.
Assim era meu mundo,tão pequeno e auto-suficiente.E seguro.Não precisava de carinho, amor, sexo.Então, aquilo surgiu,e pôs tudo a perder.E eu odiei ela no primeiro dia.Porque destruiu o meu conforto, a minha segurança, a minha estabilidade, as minhas certezas. E me obrigou...a querer ser feliz!
E a amar,a querer bem, e a dividir músicas, poesias,confissões.E tardes.Bebidas.Lágrimas.Dividir,dividir,dividir...e me dividindo tanto,quis ter junto de mim, de querer possuir,porque,porque...
eu estava amando.
E odiava aquela condição,porque...eu só queria ser amigo, e era conveniente isso.Era tranquilo,estável,seguro.Mas,não,tive que estragar tudo e olhar aquele sorriso tão lindo e aqueles olhos negros tristes da mesma cor que os meus,suas poesias,suas músicas.E eu,não queria mais ser eu,ser egoísta...
Eu não sei o que eu queria ser.Nunca me preocupei com coisas assim.Sempre tive tudo esquematizado,organizado,fechado. E tudo devia ser assim.Mas,o sorriso me prendeu me viciou em mim,e beijar aquela boca era tudo que eu sempre quis...e sonhar uma tarde inteira.Sonhar...
Porém,nada me pertencia.E ela foi,e cansou.E brigamos,cortamos laços e ferimos.Um ao outro.E morreu o sonho, o amor. Meus textos viraram punhais.E ela se foi,para sempre.E ficou aqui,algo que,teima em não sair, da mesma forma que não sai dela essa marca que outro mundo lhe deu.E que eu odiei até o último dia de quando nasceu aqueles r xiados, vindos da antiga capital da Corte do país.
Meu texto é meu punhal.Eu tenho uma amiga que coleciona punhais.Mas,não gosta de meu punhal.Porque ele mata,fere, e deixa chorar.Ele não é bonito,só faz sangrar.Antes eu tinha uma metralhadora de mágoas,as disparavas a todos os lugares,agora,sou mais traiçoeiro e cruel,apunhalo meu oponente pelas costas. Ou faço como os cangaceiros,enfio o punhal no bucho do desgraçado e digo:
"Agora cabra,conta a história da sua vida!"
E deixo cada um deles falar depois de apunhalados,deixo os sangrarem até não aguentarem mais.E como todo sertanejo que se preze, eles sempre contam seus dilemas e sofrimentos para seu algoz,como se eu me importasse com isso.Perto do fim,já com pouco sangue,o cangaceiro pergunta:
"E agora desgraçado,diga,quem foi que te apunhalou?"
Mas,era tarde:O cabra já havia sangrado até morrer, e todos eles se estouravam de rir.A isso chamavam  de "sangria".Era a mesma forma como era chamada a morte por degola de animais míudos,como galinhas, patos, cabras e porcos.Como alguém me disse,meus textos são punhais.Nada mais apropriado que começar eles ao som de Ave Sangria.
Já apunhalei muitos,e não faço a mínima idéia de quantos foram as minhas vítimas.Só sei que egoísta, eu deixei ao meu prazer que depois de apunhaladas, que minhas vítimas se contorcessem e me dissessem de suas vidas,como se eu me importasse.Mas,nunca fui bom cangaceiro, e mesmo apunhalando, me importava,e queria salvar aquelas pessoas,aquela pessoa.O meu veneno de escorpião sempre foi inoculado,mas,nunca possuía o antídoto.E me desesperava,quando ao final tinha que perguntar:
"QUEM FOI QUE TE APUNHALOU,DESGRAÇADA!"
E chorava,porque sempre apontava e diziam em riste o dedo:DIEGO COSTA.E carregava o morto por tanto canto.E não enterrava,e eu invés de rir, chorava e ria.E todos diziam:Ele rirá de si!Idiotas!Nunca aprenderam a diferença do desespero e da alegria.Da falta que o amor faz.Cegos,conduzindo cegos,caem ambos no fosso.
É,eu enfiei o punhal em mim.E contei até sangrar os meus dilemas e minha sorte, nas correrias do sertão.Agora,já cansado,quase sem voz e sangue.Eu pergunto a mim mesmo:

"Diego,quem foi que apunhalou você mesmo?"

...fique com esse sorriso no vácuo,cangaceiro.

Diego Costa

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