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terça-feira, 26 de junho de 2012

Lindo e Triste


Quando Deus criou o homem,Ele também criou a solidão. A solidão é do homem e de nenhum ser da criação a mais.Somos essencialmente egoístas quanto a isso. E disso não abrimos mão. Quando o primeiro homem se deu conta de que estava só, com seres que em nada entendiam a sua pouca voz. sem poder se comunicar,com a verborragia da animalia ao nascente, e o silêncio das bestas ao poente, ele então sentou e chorou.E essa foi o primeiro choro de um homem.
O homem durmiu.E durante a noite, forte dor o havia acometido.Sem sua permissão,sem o seu querer,seu corpo foi invadido.Ele que não havia pedido para existir,dividia-se em mais um ser.Dizem que a dor de fato não existiu,mas como medir a dor psicológica de uma ausência?Quando acordou,ele sabia,sem poder exprimir que algo de muito íntimo lhe havia sido retirado.Ao seu lado,na noite,estava durmindo a primeira virgem,e quando ela abriu os olhos,assustou-se com o que viu.Ele também,e com um gesto ao mesmo tempo,delicado e bruto a tocou...quando viu que era bom,a quis possuir como numa quarta-feira de cinzas.Ela se debatia,chorava,sentia o medo,o terror,por fim se rendeu.Assim nasceu o primeiro estupro.
Ela fugiu noite adentro,sem saber o que era, sangrando entre as pernas,na floresta selvagem e escura.Antes de fugir contudo deixará nele uma horrível cicatriz com suas unhas,quando ele acreditava tê-la subjugada.Ele gritara de ódio,a estapeará.Ele se armou,ia matá-la.Então ela correu,correu,numa clareira se escondeu,e sem ninguém ver..chorou,chorou.E toda vez que ouvia a voz daquele ser,com sua barba desgrenhada,suas vergonhas expostas,ela chorava mais e mais.Então ela se viu só.E só se tornou.Nos primeiros dias,aprendeu a viver com isso: a caçar,pescar...mas estava só.E mesmo com toda a dor,ainda pensava no primeiro ser que a tocou,no seu cheiro de almíscar,no gosto do sal,na língua que a invadia...sem se perceber ela se tocou,e sentiu tanto prazer,que desmaiada ficou.Queria encontrar de novo a sensação que não pode nomear.E resolveu o primeiro homem caçar.Nasceu o primeiro orgasmo,filha da dor.
Ela o encontrou.Estava armado,bruto ameaçador.Ela também.Não haveria como saber: Então se jogaram um no outro se engalfinharam,e nos movimentos de violência,o prazer surgiu de novo,dessa vez em conjunto.Ele havia e muito se tocado pensando em tudo aquilo,e de novo tudo lhe pertencia.Da violência,se fez gozo.Do gozo se fez orgasmo,do orgasmo se fez sentimento.E do primeiro estupro,se fez o primeiro amor.
Do amor se fez a novidade,da novidade o tédio,do tédio a conveniência.Não era preciso mais esforço o prazer estava a mão,o homem não precisava mais se preocupar,se apaixonar,sentir amor.Então o homem se tornou frio,ocupados com outras coisas,e nos fins de semana,quando Deus descansava,fazia suas necessidades carnais,a dispensava, e ela sozinha retornava a mesma solidão que antes,mas ela se viciara naquilo,na companhia,ela queria aquilo,não tinha a quem recorrer...se houvesse uma semelhante como ela,teria amado-a,mas ele era o diferente,aquele que por mais que se esforçasse não o compreendia. Da incompressão feminina se fez o primeiro machista.
E do primeiro machista se fez o primeiro canalha. Foi ai então que ela percebeu, o seu pecado orignal, e assim o que era paraíso se perdeu: O homem a fez dela amante,não mulher. Não a respeitava como igual,menos ainda que as bestas.O homem era volúvel,mesquinho,egoísta.O homem amava mas do carinho que viciava queria distância,a coincidência dos sentires era um instante de brilho de estrelas mortas. O homem era lobo do homem, e a mulher seria a serpente do homem.Então ela quis se afastar,se desfazer desse fardo,da humilhação. E assim ocorreu a expulsão do paraíso,a primeira separação.
Veio a dor,da dor veio o parto,do parto veio uma nova geração de frustrados,renegados,desesperados pelo amor original que se perdeu. Do primeiro Abel, tentou a fé até não ser escutado.Do outro Caim,de cíumes de um pai do qual não podia ver e ser compreendido,querendo um incestuoso amor do filho do primeiro homem,não o tendo em vida o consumou em morte.E assim,de novo,o homem é expulso de novo de seu lar.Da dor se fez o primeiro parto,dele se fez o cíume, e do cíume inventou-se a morte.
...E assim caminha a humanidade.

domingo, 24 de junho de 2012

Para aqueles que nunca nos lerão

Havia no teto do quarto escuro uma constelação ardente.Na escuridão, se tornava mais evidente,a luz do dia apagava-se.Quando na posição de observador, nos raros momentos que havia essas amantes inversões de "quem só entende quem namora",sabe explicar, o espectador poderia contemplar o que em seus quadris se movia e o que logo acima dele, se a visão o permitisse, o escorpião mal-feito,apagado, mas honestamente tentado, por teimosos anos de retalhos,amores imperfeitos,pretéritos,e sujeitos.
Agora,não há mais costelação de escorpiãono teto do meu quarto. E mesmo insisstente,não há mais volta dos impróperios e rangeres de dentes proferidos por delirantes vícios. Só a lembrança do sonho que poderia ter sido,e não foi.Assim,são os olhos de quem nunca leria um texto como esse que meus dedos dizem ser meu,e que ao sairem de minha mente madrugada galopada a dentro,não me pertencem mais.
Deveria ser facil:Temos signos zodiacais,psicologias e filosofias, poetas e poesias, danças e fantasias, possuímos linguagens não verbais,alfabetos,telecomunicações,idiomas,territórios em comum. Porém para aquele que amou,nada disso traduz o que o amor que jaz morto quer dizer no peito. Não há nada que possa ser feito.Deixai os mortos o cuidado de enterrarem seus mortos. No entanto, há desses cadáveres cujas fantasmagóricas memórias e sentimentos são tão queridos,que como dizer não a eles?Sobrevivem,mesmo quando clamamos a noite que fujam para a floresta,que se refugiem em cavernas, que se joguem em abismos e fossos.São aqueles que nunca nos lerão,a quem dedicamos esse texto.
Há um dever implicíto na mensagem:Ser o mais claro e objetiva possível. Direto.Sem subterfúgios.Como um naufrágo sujo e moribundo, se envia ao infomar mensagens em pequenos posts engarrafados de fragéis pedidos: Me entenda, me resgata, me ama, sinto sua falta, você me sufoca, não esperarei mais, não desistirei de esperar,eu te amo,eu te odeio,a mão que agora escarro será a mesma que embalará o meu cinico berço.Que desconfortavelmente, o corpo negro,envolto numa crisálida branca na iminência de se partir, tenta gritar e não consegue.Do lado a insônia,do outro um coração partido. Cristo,no meio dos dois ladrões do sono da madrugada.
Mas,elas não param.Atormentam,pedem perdão.Perdão a quem?Pelo quê?Quando os rogos do cristão da capela se tornam repetidos,o mesmo esquece na sua ladainha porque pede. O cordeiro de Deus,que tirai os pecados do mundo,mais uma vez,tende piedade de nós.De nós atados,dos filmes bíblicos assistidos,das atuações de Marlon Brando, Robert de Niro e Al Pacino, das pizzas, das cigarrilhas, da água fria jogada na cara,das brigas em casa,dos cíumes, dos olhos verdes, da falta de privacidade,da opressiva hospitalidade.Do amor.
Que amor?O da I epístola de S.Paulo aos Coríntios,cáp.13:35?O do soneto de Luiz Vaz de Camões?O do barroco pós-punk romantismo de Renato Manfredinni Júnior?O do Samurai de Djavan?Os pequenos textículos de Lispector , Caio Fernando Abreu e Nietzsche? Shakespeare?Lá fora,é dia de fogos,aqui dentro é apenas frio. E na barriga de quem distante não diviso,viro menino,incerto,como as curvas das estradas da Paraíba.Mais distante fica Teresina.Um pouco antes,a Fortaleza guarda meu vermelho guia.E além disso,no Maranhão,a imperatriz e o caxias.No céu,apenas uma lua feminina,phoenix noturna,silenciosa,metamorfa,com o pálido brilho sobre os lobos tristes.
Então,tudo se explode em raivas,malícias,manipulações,intrigas.Onde está,onde irás,meu pensamento?Nas decisões que só eu posso tomar,me perco no Recife Antigo cercado por bares,cujos olhos agressivamente sexuais ferem e se oferecem ao corpo que anda distraído.Conduzem a carros,becos escuros,beijos,sarros,sussuros.Para serem arrancados a força,por semitas savonarolas,que proclamam,não serem suficientes para seus egos a figura que tem como concorrente.Alcoólicos anônimos,velhos conhecidos.Assim,é a constelação e seu luar inimigo.
Quando começou tudo isso?Com sorriso em rictos,desesperos pelo badalar dos sinos da igreja da Boa Viagem, pelos pesados poderes negros de um homem de X puxados como aquele,acima do bem e do mal.Havia ciganas,exus,luciferes,tranca-ruas,e todos aqueles nomes que os crentes púdicos temem falar em público.O baralho estava na mesa...jogue: cruz celta, três lâminas...O tarot de Marselha,de Espanha,de Thoty e de todas as ciganas.Me seduziram,me prendiam,em leques que não soltavam ventos,em incensos,pedras,e olhos cor de mel escondidos em lentes azuis ou verdes.
Era aniversário,e um homem atacou.Foi num banheiro,um ensaio.Resposta rápida,defendeu-se do agressor.Virou boato.Escondido,sussurado.Afastado,agora escuta o que ficou calado.Duas versões,dois fatos.Um tapa na cara de quem um dia foi amado,lágrimas madrugada adentro,gritos de Édipo Rei,esquizofrênicos rebelados,policiais armados, homens desarmados,entregue a lei de Safo.Vai,não peques mais...acabou tudo,pegue o taxi,vá está atrasado,o coelho grita.Corra,Alice,corra.
Era para ser o chapeleiro louco,mas a rainha de Copas tinha medo,pasmém,de que cortassem sua cabeça,e assim irmão não conhece irmão,amigo não conhece amigo,e a matriarca espera silenciosa os gritos do seu filho.Uma vigília inteira,noite de bebedeira,e acabou tudo contigo.
Não pode ser:Não é silêncio,não é o que se quer ouvir.Perseguição,dias de solidão,viagem pra velar o irmão.Ironia da onde vem o olhar e o abraço de perdão: Não deixa de ser estranho a quem tanto se matou agora estende a mão,aliviado das penas,a quem de algoz virou membro da prisão.Abraço,Alice se perdeu e se encontrou.Fotos.Dois anos de espera.E como a negra que se envolve em cobertas brancas,uma flor de fuxico sai da crisálida como uma mariposa santa em fundo púrpura.Fica bem nos seus cabelos,e nas suas roupas,menina lúcida.
É a torre.É a foice.É o monte castelo.É o reencontro cármico.É um texto sem pé nem cabeça.É um sátiro.Bicho de Sete-Cabeças.Enquanto os insones dormem,o lobo mantém vermelhos olhos cheios de areia,na inglória luta contra o deus do sono.E ao fim do texto,na certeza que tantos aforismos,pleonasmos,metafóras,e não ditos,não serão lidos no amanhecer de domingo,ele se despede com o seguinte aviso:
O amor (em excesso) mata.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu Te Amo - Chico Buarque,Tom Jobim e Paula Morelenbaum (participações especiais de Paulo Jobim e Danilo Caymmi)


Eu te amo - Tom Jobim / Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Lado Escuro da Lua



Não me escreverá. Sei bem disso. O tempo corre, bem sei, o sono é curto,as ansiedades grandes, os sonhos pequeninos.Não levará tantas lembranças consigo. As circunstâncias permitem pouco. O que levar, e o que esquecer, só a mala e o coração poderão dizer. Chorar será necessário,mas,as malas que vieram antes, trouxeram o tempo de fim de maio, para fazer sua janela chover. A menina queria ir embora,mas para onde ir, a sua escolha não pode ter.Para onde escrever, o que ainda se permite, é guardado a sete chaves de flores de bem querer.Fuxico paraibanos, de quem sabe escrever.
Primeiro será o sono:Ela agora sonha,melancólica, a saída.Ela não lerá isso,estará entretida em seus últimos momentos de partida. O mar da Boa Viagem ira esperá-la descoberta. Se as nuvens cinzas permitirem,ela se sentará em algum canto onde a brisa da chuva e a reia molhada permitam reflitir o seu ser.As luzes da cidade de quem nem imaginava sentir falta se mudaram para não mais aparecer.O homem que desesperadamente já não será mais tão presente.As amigas no qual escreverá suas memórias.O filme da Cosa Nostra,a Máfia.É pena que a última vez tenha sido de dor.
Ao mesmo tempo,não irá embora.O percurso de ônibus,mudando a linha,será mantido.O curso de letras ficará,também ficará aqueles casos mal resolvidos por amar.As saídas esporádicas para desopilar.A passagem,as sobrinhas que crescem cada vez mais lindas.O morro da conceição,com as promessas e dívidas.Os quatro cantos de Olinda. A cidade antiga.O mar.A lua tão grande e bonita.A novela cujas páginas não lerá.E aquela que da TV acompanha assídua.É e ainda assim,estará presente.Distante.Presente.E assim,seremos adultos,como todos deveremos ser.Tão pertos,e tão distantes do céu.
Essa coisa de escrever,não pretendemos nunca sermos bons.Elas,as coisas se escapam em dedos,canetas,canção.Viram letras.Poemas.No qual nenhum corpo que beije,fique,transe,terá direito,até o dia em que se permite adentrar a alma do lado mais negro da lua,aquele lado que as palavras não alcançarão,que os abraços levarão como verão, cujo o amor o gato comeu,e que as cizas se espalhou...e que tal como o passarim do qual Tom Jobim me diz: Por que que eu não fui feliz?Cadê meu amor,minha paixão?Que me maltrata o coração?Que me alegrava o coração?Que me alegrava o coração...
As músicas já foram guardadas.As leituras adiadas.O fundamental não será esquecido.O caderno será mantido.O porta-retratos...nem sei se tem contigo.É,assim,já não posso,não quero parar.A distãncia será difícil,se perderá algo que nem será possível dimenssionar.Mas,ainda que seja dessa forma.Ainda que doa e que devesse ser considerado crime as progenitoras enlouquecerem primeiro que as filhas.A morte não será mais um gosto que irá dizer.preferirás outro.
O abraço,da irmã,da alma.Da vida.Sei dizer coisas,que não sei mais.Meu corpo não me obedece,e paralisias se tornaram até frequentes.Copos derramados,brigas,reconciliações.Até quando?Talvez só até o tempo em que esse texto seja soterrado,e apagado,em alguma página obscura de um site,de um quarto,vazio,e sem você.
Entretanto,lá,mais do que cá, a lua é mais bonita.Brilha a luz mais forte, o céu é opressivamente mais limpo que os homens.De alguma forma,é preciso fazer valer,isso tudo terá que ser bom,e se não for.A gente faz um jeito amigo,de ser amor.