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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O 5º Dia

Boa madrugada a todos, devido as festas de fim de ano, eu não pude dar prosseguimento regular ao projeto, pois bem,continuo aqui com um novo poema, feliz natal atrasado e até a próxima.
                                                          
Primeira Parte:

Abaixo os Puristas

                                       Essa negra Fulô
                                                                    Jorge de Lima

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra fulô
            Essa negra Fulô!
            Essa negra Fulô!
Ó Fulô!Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
- Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
             Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama
para vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô!
              Essa negra Fulô!
              Essa negra Fulô!

Ó Fulô!Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!

vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono,Fulô!

            Essa negra Fulô!

"Era um dia uma princesa,
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco."

            Essa negra Fulô!
            Essa negra Fulô!

Ó Fulô?Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"Miinha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".

              Essa negra Fulô!
              Essa negra Fulô!

Fulô?Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a Negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?

- Ah!foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!

O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor
A negra tirou a roupa.

O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)

           Essa negra Fulô!
           Essa negra Fulô!

Ó Fulô?Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah!foi você que roubou,
Ah!foi você que roubou.

            Essa negra Fulô!
            Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.

            Essa negra Fulô!
            Essa negra Fulô!

Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah!foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?

               Essa negra Fulô!


LIMA, Jorge de apud MORICONI, Italo (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, pp.37,38,39 e 40.

Sobre o projeto Desafio dos 100 poemas em 100 dias veja em: http://matuzalobosolitario.blogspot.com/2011/12/desafio-dos-100-poemas-brasileiros-em.html
Sobre o poema do 1º Dia "Poema de sete faces" de Carlos Drummond de Andrade veja em: http://matuzalobosolitario.blogspot.com/2011/12/o-1-dia.html
Sobre o poema do 2º Dia "Poética", de Manuel Bandeira veja em: http://matuzalobosolitario.blogspot.com/2011/12/o-2-dia.html
Sobre o poema do 3ºDia "Canção do Exílio", de Murilo Mendes veja em: http://www.matuzalobosolitario.blogspot.com/2011/12/o-3-dia.html 
Sobre o poema do 4º Dia "Pronominais", de Oswald de Andrade veja em: http://matuzalobosolitario.blogspot.com/2011/12/o-4-dia.html  .
 
 
 
 

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