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terça-feira, 5 de julho de 2011

Para Mellissa, quinta-feira,26 de maio de 2011

Uma carta /email


Para a Rainha da Dor




Eu espero te encontrar.Em qualquer lugar.Num café parisiense, numa taverna berlinense, num pub inglês, numa mesa de bar.E dali sentar, conversar, beber e comer alguma coisa.Te falar de alguma poesia de florbela espanca, ou da filosofia perene de Aldous Huxley. Do moralismo de um Marx ou Nietzsche.De um lugar mágico como o de Doroth ou Alice.Irei fumar alguma coisa,se você me permite.O câncer não me preocupa, só uma persistente rinite.Fumarei canela,tabaco, ópio,haxixe.Nada que quebre em inglês,só o que a lagarta tragava com requinte.Quero continuar te vendo, mesmo que os olhos não deixem.Quero conter seu cheiro,mesmo que o perfume se evanescesse.Quero guardar seu segredo,mesmo que para mim não conte uma sílaba e só as deixes todas as suas irmãs ou amigas.Cada pedaço que você me dê,serei um cão infiel de mim mesmo para te ser.


Não que eu deseje ser você.Na verdade,se fosse escolher o meu sexo,seria o de ser.Ser plural,humano,demasiado humano.Coisa pequena,que descubro em cada sentimento aonde leio, nos murais das paredes, nos beijos que há muito não dei.Dói,machuca,eleva e sublima.Solitária sina.Todo dia uma cápsula de fluoxetina de dia, e de noite uma pilúla de rivotril.E um cetirizine manipulado para alergias.É um processo,uma metamorfose.Quando fico louco de mim, me isolo, escondo.Deshumanizo.Só preciso de mim, e meus livros.E do silêncio,levemente esquivo,que se quebra com alguma música que deixo meio que escondido.Nos lugares de sempre.
Sinto falta do que sentes.Amo o que não me entende.Não entendo o que me abandona.Peço calma,a essa loucura adolescente.Trabalho 3 vezes por semana, para pouco receber.Não tomo café com leite,prefiro suco de limão, que é mais ácido.Basicamente.Muitas crianças,adolescentes.Algumas amáveis,outras intransigentes.Sempre fascinantes.Sempre tão...que dizer?Me lembro de você no Yakissoba que eu como a trufa de chocolate que parei de consumir e receber.Não ouso,não peço.Isso é seu,intocado.Para quê devo usurpar?

Hoje eu vi uma baleia azul encalhar (é minha alma que está lá),um salmão preso numa cachoeira congelada (é minha alma que está lá),uma bandeira em frangalhos a se mover na ventania (é minha alma que está lá), há um homem cego em seu trono, há um homem que transforma tudo que toca em ouro, há um esqueleto engasgado com um pedaço de pão...

E no meio disso tudo uma menina que ... chora. Para sempre, sempre serei o rei da dor?Para sempre,sempre terei esse reinado?Para sempre,sempre,serás minha rainha?Para sempre,sempre, veremo o cipreste branco e velho no cima da colina.E a esquerda entrada do inferno, a fonte do esquecimento. E nos arcos escritos, em tínpanos, os dizeres em arcaico grego antigo:"Esse é o reino de Hades,Érebos,e aquele que aqui entrar,por favor, deixai a esperança...".

No cemitério,nós que aqui estamos,por vós esperamos.No campo de concentração nazista, o trabalho liberta. No Arquipelágo Gulag soviético,não há frases de efeito. E desconheço algo do gênero nos presídios chineses,norte-coreanos ou cubanos.Talvez,nos navios negreiros.Catedrais do consumo,escravos do prazer.Tens seu direito de ser libertina,mas escravizas o teu sentimento.Nos negaram o sagrado direito de morrer,mas nos deram o dever de viver.Viver como homens,ratos,ou anjos.Ou ainda se deitar,sobre a relva do campo.

Há uma menina que chora pela morte de seu hamster, um amante presa por matar seu amante,um chefe de mais de 60 anos a torturar um estagiário, um epitáfio em letras de ouro apagado pelo tempo, ferrugens que corroem os portões de um casario antigo, um homem que vive sem seu melhor amigo, uma mulher que abandona as estrelas e vive seu índigo, uma mulher de cabelos vermelhos que desaparecem no Pacifíco, uma pessoa triste da distante terra amazônica, um namorado na capital de 25 de dezembro.

Houve um atentado político em algum lugar de Recife.Mataram João Pessoa,criaram um Estado Novo, e uma capital para a Paraíba.Sinto falta,sem conhecer de Campina Grande.Seu São João será eterno enquanto existir Caruaru.Um e-book aberto sobre a mesa de Herman Hesse.Um assassino confesso a se entregar, que só depois de mais de 10 anos, cumprirá 15 anos de pena.Uma professora revoltada pelo trabalho que realiza em um país tão triste.Uma doença que não tem cura e paralisa as letras.

O que eu quero te dizer mesmo,não importa.Também não importa O que eu só queria escrever,era para te dizer quando você algum dia se for.Não esqueça,que eu amo você.E que não precisa de muita coisa para te dizer.Só apenas escrever:Eu amo você.

Diego Costa Almeida.



Do blog:Doce de Pimenta

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