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quarta-feira, 11 de julho de 2012

CASSANDRA ou Elegia a Mentira

Os deuses não perdoam a beleza.Nem a verdade.O tempo implacavél vêm com suas garras de bestas arranhar as faces humanas com rugas e sinais de expressão.Em alguns rostos,resiste bravamente a dignidade.Em outros, a piada farsesca da juventude eterna. Já a verdade, sofre duplamente: se a mentira pode prosperar ainda que por pouco tempo, a verdade dificilmente terá a paz que sua antagonista pode gozar.
Nenhum deles , humanos vaidosos,porém pereceu o que Cassandra viveu. A beleza lhe tirou algo que nos dias atuais, em particular em certo país abaixo da linha do Equador, se torna cada vez menos valorizado, admirado, respeitado.É tido até como estranho, fora do normal. E como não haveria de ser ao vivermos numa terra de feudais senhores estatais?
Levaram dela a Honra. Não simplesmente lhe tiraram a virgindade, maltraram seu nome.Não:coisas assim são singelas até inocentes demais para o repertório de crueldades da imaginação mítico-antropológica grega.Antes de mais nada,é preciso dizer que Cassandra era um Oráculo, uma humana intermediária entre a vontade dos deuses e desejos dos homens, capaz de prever o futuro.Sempre que vaticinava sobre o destino, suas palavras se tornavam ações.Era temida mais que as guerras e as aves de mau-agouro.Porém,nascera com um "defeito" imperdoável a vaidade teofeminina: Era em sua época a mais bela das mulheres.Mais bela,inclusive que a deusa dos oráculos:Parla-Athenas.
Vanitas,vanitatum,vanitas: assim ela seria amaldiçoada.Como protegida de Apollo,senhor dos oráculos e do sol,ela não perderia seus dons premonitórios.Pelo contrário:ela iria prever unicamente tragédias,entretanto, suas palavras nunca seriam escutadas,nunca seriam acreditadas. Pela sua boca, a verdade passaria a ser mentira.E a mentira mais verdadeira que a verdade.Porém mesmo a mentira vinda de seus lábios teriam tanto valor quanto sua verdade.Ou seja,nenhum.
Alguns dirão que poderiam ouvir as mais terríveis palavras desde que vindas dos belos lábios da verdade.Não creio nisso. Por mais belas que fossem,não somos animais feitos para a verdade.Já foi dito por uma dessas sumidades intelectuais-pop que todo mundo cita mas que não sabem o nome, que se a sociedade adotasse a verdade como linha mestra de suas ações, a sociedade se desintegraria sobre o peso de suas próprias contradições.A mentira é necessária a vida.A vida social,meu bem.
Atire a primeira pedra quem em algum momento nunca foi uma pessoa dita "falsa".É possível distinguir ao longe as pedras que virão lapidar a Maria Madalena sem Jesus para salvar.Todos se diram honestos,intégros,verdadeiros. Acima de qualquer julgamento.Tal como os grandes corruptores de Brasília, do Senado de Roma ou do Templo de Jerusalém. Irão mentir a si mesmo,ao garantir que seu peso não corresponde as medidas.De que,os dois pesos,e duas medidas suas,não são aceitas universalmente pelo sistema internacional de pesos e medidas.
É um mundo ordinário,confesso eu.Entre a verdade e a beleza, o mito de Cassandra nos diz que é impossível conciliar as duas num mesmo espaço.É Deus ou Mamon:Ou se apegará demais a um desprezará o outro,ou o inverso.Não se pode amar a dois senhores.Não se pode viver um mundo de beleza totalmente imerso em sinceridade.E não,há ironia é apenas uma forma bem menor de verdade,uma tentativa falha e covarde de se dizer a verdade sem a dizer de fato.
Com todas as palavras, somos Cassandras.Sem a beleza do óraculo,apenas com o descrédito das mentiras...
...mas você não acreditaria em mim,pois eu sou Cassandra,e tudo que digo,são apenas mentiras saídas de belos e hipnóticos lábios.

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