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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Porto Inseguro.

Da terra,uma menina contempla o mar calmo e escuro.Seu vestido simples é de renda é negro,se balança quando há vento,se umidece quando a névoa,chora quando tem lágrimas salgadas como o mar.O cabelo negro se desfaz no vento,ou se cala com a névoa.Águas paradas,mar de sargaço.A pele branca,os olhos azuis cinzentos que lentamente nada vêem.Glaucoma.É dia de nevoeiro intenso,e só o farol ilumina o lá distante horizonte.O sol,não se vê daqui,mas ele existe e está lá, mesmo que já tenha ido embora a tanto tempo.Atrás da prainha onde ela se encontra,há um imenso paredão, onde em cima,repousando no gramado,a torre do faroleiro,fica imponente no meio da úmida prisão.
Nem sempre é assim:O mar é forte e rebenta com força na rebentação.Destrói pedras,mói sonhos.O vento é uma espada que move e molha roupas estendidas no varal, com violência de estupros de casal, açoita as ovelhas que balem como esposas que apanham de maridos cretinos e abre buracos,fendas e cavernas como minha virgindade perdida pelos incestos da família.O álcool faz dos pais,faroleiros estupradores e sexos.E move moinhos,que trituram sonhos,e grãos.O frio é intenso,os dias sempre cinzentos. A solidão,em meu ventre.A chuva se derrama sobre criaturas e homens, como se derrama no corpo de uma mulher,de uma menina.E essa sou eu, um corpo derramado em águas,diante do mar,a espera dos veleiros que vêm.
Mas,eles não vêm:Preferem se afastar da costa a enfrentar a fúria do mar e seu porto inseguro.Na noite,não há lua,só tempestades: Eles não querem chegar aqui,porque as rochas dos arrecifes se encontram escondidos pela força do mar,e elas rasgam corações e barcos.Os ventos os jogam intempestivamente a costa, mas são apenas carcaças envoltas em mar,sal e sargaço.E que pela fraca luz da manhã,atraem as gaivotas a terem seu desejum com os despojos que a velha prostituta morte,deixa para trás.As redes ficam estendidas a secar,o seco que nunca vêm.Os homens comentam as mortes a boca míuda,tomando cerveja escura no bar e sendo silenciosos como a dor.
Não há risos nesse lugar há um luto que se quéda varado el mar...
É amargo o viver das víuvas,que vêem os baleiros partirem sem jamais voltar.As conchas já perdi de contar:Elas cobrem as areias,machucam meus pés,e vêm como presente do mar.Que eu não quis.Queria de volta,aquele amor que partiu,e que não tive tempo de abraçar.O vento balança os cabelos negros, meus olhos progridem a cegueira.Me contaram mentiras,me contaram que jamais irás retornar,e que seu coração não pertence a esse lugar.Será?Não posso mais ver,mas sinto o vento,frio que me abraça.Os meus pais,os meus amigos disseram,está louca.Fica calada,observando o mar.
Pois eu tenho o orgulho do mar, e por sua memória,nunca me humilharei,nem me rebaixarei.Estarei aqui,até o dia que você voltar.Mesmo que velha,cansada,e cega, se seu coração retornar dos quentes mares do sul,ainda estarei aqui.Eu,o nosso pequeno casebre de pedras e madeiras puídas,coberta de liquéns,musgos,algas e conchas que tantas vezes recolhi das areias da praia.As árvores mortas com os galhos expostos,negras como a cruz.La cruce que repousa en su leito.O caldo quente de peixe,do jeito que gostas.As roupas a varar no vento.A neblina que cala em mim silenciosa.As vigílias em oração,ao crucifixo negro.A cama simples de molas velhas.A luz das velas,as histórias das velhas.O meu corpo branco nu sobre o teu peito magro e forte,queimado de sol.O meu olhar perdido ao horizonte, a lembrança do filho que morreu no meu ventre sem nascer.As lágrimas que derramei a ti.
As crianças,tão amgras e famintas,não tem com o que brincar.Os jovens são tão tempestuosos,que brigam,fogem do mar,e nunca mais retornam.E quando retornam,jazem caladas,em seus cantos,Envelhecendo a cada dia,até serem iguais a seus pais.Com barbas cerradas ou mal feitas,faces marcadas,de tanto chorar,que lágrima não cai mais.Esse lugar o mar, as seca.
Assim são as meninas desse lugar: Elas são tão caladas e bonitas, quando inocentes sorriem tímidas.Pais severos e rudes,mães submissas e religiosas.As castigam,são incompreendidas.Machucadas, vendidas, seviciadas.Suas bonecas de pano,palha,quando afortunadas, de porcelana, adormecem esquecidas em algum baú da memória largadas.Guardemos todas as cartas, e as vezes enviamos,as vezes as letras são caladas.Nos diários,quando sabemos ler,em nossos cadernos escolares, deitam os poemas,as confissões e o que você jamais irá ler.Tecem redes, lãs, roupas.Ninam meninos tão tristes como elas,com grandes olhos cinzentos.Só dançam quando há a festa pela chegada dos homens,mas quando não há vestem lutos e cantam tristes e chorosas, os hinos funébres,acompanhando o padre e o cortejo,passando por entre vales verdes e cinzentos,por riachos onde matronas lavam roupas em pedras,e enterram os mortos no cemitério do vilarejo.O sino toca,haverá missa aos domingos,pessoas vão bem vestidas,meninos correm em alegria.Os sinos dobram,a partida para o mar e despedidas.Os sinos soam,alguém não mais voltará.Já enterrei aqui meu coração: Meu irmão há muito que o mar levou.Minha mãe,há muito que a doença já levou.O meu pai,fica no farol a farolar a vida de quem não quer se aproximar desse cais.Talvez,também espera a volta de sua amada,coberta de sais.
É noturna a poesia que escrevo,na madrugada acordo sozinha.Você não está,como não esteve no jantar,nem no banho,nem na cama.Levo o óleo,sozinha até o farol.Ele não pode apagar.A chama da vela dança,a garrafa calada de vinho.O meu sexo e prazer silenciado.O livro repousado a cabeceira.A rosa murcha.A sombra da consolação.A grama se move,ao vento do mar.Nada anda aqui,e sozinha vou até lá.Subo a escada,enferrujada.Lá do alto contemplo ninhos,de pássaros calados com frio.E o mundo,tão grande como a chuva.E você não está lá.
As gaivotas ainda indicam quando o pesqueiro e os baleeiros retornam.Não me trazem notícias.Só peixes,molucos,conchas e cetáceos mortos.Hoje o óleo da baleia será cozinhado, o bacalhau defumado, as escamas jogadas no piso do porto.As mulheres carregaram roupas, os meninos barquinhos na maré baixa.Vão ver o vento com eles brincar.Eles se calam e se vão,os homens do mar,enquanto insisto em perguntar.E respondem: Ele não vai voltar,repousa no oceano.Isso quando não me batem e me amaldiçoam.As crianças de mim caçoam: "Lá vai a doida do porto a procura do seu bem no mar!".Enquanto o porto desperta em alegria,as velhas vestidas de preto rezam, agradecem,amaldiçoam e se compadecem da jovem que espera a volta daquele que não mais retornará.Ninguém me retribui o solitário olhar.
Emigrar e navegar,são duas faces do mesmo mar,ambos navegam e se vão longe das terrinhas de cá...
Deus já se cansou de me ouvir,e eu de rezar o terço,confessar e a ave maria implorar.O pade em abençoa,mas não sinto consolação. Quando a partida há lágrimas,quando há retorno a alegrias.São os nossos haveres e misteres de tanto se faz pelo mar.Não sei o que é isso mais, não há mais pelo que chorar.Me isolo de todos tantas vezes, as vezes transo para te esquecer. Conheço os caminhos,mas tu sabes como a mim retornar?
Bebo para durmir.Não consigo sonhar.Sinto tua falta.Volta?Por favor!Esse que sangra não aguenta mais chorar!Qualquer dia morro,e não terá como voltar!Minha raiva se cala, meu suicídio se atrasa,pela esperança que se renova sempre que desponta o sol no horizonte do mar....

Ela retorna a observar o mar.Que saudade,que desterro a movem nesse penar?Que mar será?Pode ser em Janga,ou Piedade.O mar sempre está lá.Eu sou a menina, você é aquele que se vai.E eu fico´só a te esperar,como a menina.Esse porto é inseguro,mas pdoes voltar.mas se um dia voltar,não demora.Esse porto é o meu coração,essa fúria é meu mar.Esse sou eu,e esse é meu ser.O vento que balança,te espera.Não sou eterno,mas o mar é.E esse sentir em ti,que repousa,é como um relicário que diz: Esse filho é só.E esse porto inseguro é teu.Como o mar.

Diego Costa.

 

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