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quarta-feira, 25 de maio de 2011

ÍVILA


Eu não esqueço o seu nome. O seu telefone. O seu endereço. O seu olhar não esconde o que sente. Nem os seus medos.Nem seus olhos negros, hipnóticamente negros.
 Somos tão confusos, nos lembramos um do outro em cada pequena letra de música. Nossa (?) música...não temos: Ficção, verossimilhança, poesia...
Não sei quase nada de você, há não ser o suficiente. Eu namoraria você, se pudesse, mas, você não se enamoraria de mim. Há um conflito claro de gênios, estamos a procura de flores de amor-perfeito, e nossos jardins são muito longe para estarmos perto de si, e de nós.
Esse quarto em carmim, é pequeno. Demais para nós dois. Um abajour francês a meia luz, persianas  brancas de cetim balançam ao vento noturno. Lá em cima a uma meia lua. Islâmica noturna. É um desejo crescente: Fecha a janela, o neon nos ilumina. Dormentes. O cheiro de um cigarro mal apagados no cinzeiro de vidro. Whysky barato. Tão suja de si: O barulho de nós, em uma cama rangente em sexo,no surpreende. Nos apavora. No excita. Seu vestido negro, seu soutién vermelho. De costas para mim, me escondes algum segredo. Só um sorriso sacana, com cabelos negros jogados para trás. É um planejamento de um assassinato.
Você me mata.De prazer. Sua companhia me entrega o que eu escondo do meu ser. O meu perfume, gardênia, um blues ou trip hop no ambiente. Lhe abraço por trás, as mãos passeando por entre desenhos que...não queremos que outros saibam. Lá fora és pequena, aqui da onde vejo, por cima de meus olhos, és gigante. É impossível não rir, mas, uma risada gostosa de cúmplices de um crime. Se quebra o clima? Criamos nosso próprio jeito.
Há uma cidade inteira lá fora sem lembranças. Você tem que viajar agora, buscar seu pai. Lhe tiraram uma casa, te tiraram a castidade do amar. O sexo fechado, as aulas em inglês. Perto demais, longe demais. Uma amizade que se confunde nas palavras.
Diga a verdade, você é apaixonada por mim. Diga a verdade, você é apaixonado por mim. Eu te odeio. Eu odeio Você. Nunca dissemos eu te amo um para o outro, sorrindo felizes, em algum boulevard de Paris, em maio de 1968, nas lentes de uma câmera Leika.
Eu nunca beijei você. Mas sei cada miligrama de seu cheiro. Imagino cada um dos seus tímidos trejeitos. Vi um pequeno e sensual corpo em alguma noite de rara beleza. No sol da Fortaleza, eu sentei e chorei. Bebemos, escutamos as mesmas músicas. Uma intimidade incovenientemente inédita. Uma natureza indômita de maranhense. Alguns ficantes a mais ou a menos. Um ódio insistente. Uma queda inteira pela frente.Você de mim, sabe demais. Eu de ti, menos. Cada vez, menos.
Intempestivamente, você irrompe e diz que se lembra de mim, em algum momento do dia. Alguma música perdida. Então você me lembra: É saudade. Não sei, passei muito tempo estranhando esse sentimento. Não sei, estou com medo, tive um pesadelo. Só vou voltar depois das seis.
Tão perto, tão longe. Um projetor de cinema de distância. Um discurso pós-moderno de distância. Talvez um ano inteiro de distância. E talvez um nunca mais de distância. São muitas léguas a caminhar. Muita estrada de chão, coronéis, sertão. Errar sem mar. Terra sem ar. Um pássaro só, numa inspiração de música.
Minha inspiração, meu medo, meu sexo. Nexus, plexus, sexus. Amplexos. Reflexos. Sortilégios. Rémedios. Prédios. Velhos. Imagens, fotos, não temos. Familiares em comum, não temos. Culturas separadas por corpos e léguas. E você que tem imagens a receber? Alguma você encontrou de mim? Essa encontrei na internet. É possível que aja mais.
Esse é uma situação em que não temos tanto o que fazer. Estamos separados por um distante sentimento. Incompreensível sentimento. Invisível sentimento. Ausente sentimento. Um instante por um momento. Registrado no imáginário de um casal em branco e preto, num  qualquer Boulevard parisiense, a nos beijar apaixonados, um sexo em línguas, olhos, suspiros e desejos registrados nas lentes de um distante maio de 1968, em uma soviética câmera Leika. 

Só não esqueça de não pisar no sangue dos nossos corpos no chão da sala, e não deixem que limpem ele nas cortinas de cetim branco, no nosso quarto em carmim, vermelho...



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