Pesquisar este blog

segunda-feira, 9 de maio de 2011

SOLEDADE

Soledade sf.1.Lugar ermo.2.Tristeza de quem se acha só.

Dicionário mini Aurélio Escolar,4ª edição revista e ampliada, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro,2001, p.643, passim.

O poema escrito abaixo, foi feito por um substantivo feminino.Um luger ermo.Uma tristeza de quem se acha só. E que entretanto, por mais que tenha alma feminina, era um menino. Eterno menino. Um homem que já não existe mais, feito daquela forma e daquele amterial que não se encontra mais.Sua matéria era o cacau.Seu nome,é passado.Seu sobrenome é solidão.Morto sim,jamais esquecido: Esse é Otto Soledade Júnior. Negro, bahiano, intelectual. Burocrata, professor, político.Antropólogo.Brasileiro.Um dos homens mais inteligentes, espontâneos e simples já conhecidos.Já foi presidente da FAO, um dos maiores especialistas do mundo em Cacau (VEJA EM OBSERVAÇÃO, LOGO ABAIXO ).Falava inglês, francês, espanhol e arranhava o alemão.Era pintor diletante, e já jogou um belo quadro sobre pescadores (uma tentativa, que ele considerou fracassada, mas cujos traços guardam muito do modernismo) no lixo, se não fosse o meu avô.Talvez preferisse o traço do naquim, cuja mfragilidade e as paisagens me fizeram acreditar por anos que se tratava de alguma paisagem chinesa,e não da Bahia de Todos os Santos e do Senhor do Bonfim.Casado com minha tia avó bahiana.Exímio capoerista, o mais graduado em seu estilo, desafiava qualquer um que tivesse uma faca, que ele desarmava.E espantava todos com sua habilidade, e com a faca caída,estendida no chão.Poeta,amigo de meu avô desde quando ele era menino, e trabalhava na loja de um tal Salatiel, na pequena e saudosa Ilhéus, do qual ajudava aquele senhor como guia.Afora meu avô,não tinha (supostamente) parentes pernambucanos (tenho sérias dúvidas quanto a isso,pelo estilo e pelo jeito de ser)...

Escreveu abaixo esse poema, datado de 1970, e no ano de meu nascimento o dedicou ao meu avô, que o achou bonito e o ganhou de presente (durante os anos 70,ele fez muitos poemas). Jamais o conheci, mas seu sobrenome, eu muito amo e vivi...

...Hoje,seu poema está escrito em papel pautado amarelado e envelhecido, emoldurado no corredor numa parede, em moldura de vidro, e atrás dela, no verso há uma oração.Seus quadros pintados e nunca reconhecidos, em nanquim ou qualquer outro estilo, fazem companhia ao apartamento semi vázio e  solitário (mas cheio desses silêncios ensurdecedores entre familiares que se suportam a tempo demais), de meus avós adotivos.Desde pequeno,que eu não sabia, esse nome, essa condição de se estar só, me fascinava, me amava, e estava tão distante de mim.E como todo SOLEDADE, jamais publicou os seus belos poemas em livros...

OBSERVAÇÃO: Livro de Ensaio em Antropologia  de Otto Soledade Jr. para download em pdf:
 A Árvore da Vida Asteca e o Cacaueiro 


Conformidade - 07 de Novembro de 1970


oferecido a meu
irmão A.(Antônio, nota nossa) Sebastião Barros
"o menino de Salatiel"
Brasília, setembro de 1987


Otto Soledade Jr.





Eu não escolhi
meu nome
o lugar onde nasci
língua que falo
cor de pele
Se feio ou bonito

Eu não escolho
as cores das rosas
os matizes do mar
as formas das nuvens
a consistência dos objetos

Eu não escolherei
o dia da morte
o número da campa (nota:cova)
os amigos que chorarão

Se nada escolho
"quem sou eu"?
Resta o esforço para Ser
Simples e humilde
participando,
vivendo a multiplicidade
das escolhas
feitas por Deus.

Otto Soledade Júnior
(assinatura).

Nenhum comentário:

Postar um comentário