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sábado, 16 de outubro de 2010

O vendedor de sinceridades



*Legenda: Cartaz da peça de teatro "A morte do Caixeiro Viajante", datado entre os anos 60 e 70, feito pelo designer gráfico e artista plástico brasileiro (e paranaense) Elifas Andreato, para a  montagem brasileira da peça do escritor norte-americano Arthur Miller (1915-2005). Escolhi essa imagem porque ela fez parte da minha infânica: No antigo prédio em que meus avós adotivos moravam, o edifício Atlântico, na beira-mar de Boa Viagem, Recife , Pernambuco, existia um quadro com esse cartaz. Eu que sempre fui fascinado por esta obra, sempre ia lá e ficava admirando esse quadro.Só hoje descobri a sua autoria, e por isso coloco esse quadro como metáfora a esse texto escrito por mim. 

Fonte sobre Arthur Miller: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arthur_Miller

Fonte da imagem e sobre o autor da obra de arte: http://taislc.blogspot.com/2009/09/elifas-andreato-designer-grafico.html

"há coisas que é melhor não serem ditas..."
Priscila,14 de outubro de 2010.

A frase acima foi dita numa conversa de msn,entre eu e uma amiga,após comentar o meu último texto escrito.Aquilo me marcou,e por isso escrevo,não sei o que ela realmente quis dizer com isso,mas, escrevo assim mesmo.É sou sincero: Sou um vendedor de sinceridades, e é por esse motivo que todos aqui vêem me ler. O mercado de sinceridades nunca esteve tão em alta na bolsa de valores, e sempre encontro clientes satisfeitos a me dizer "Você é sincero","Seus textos são sinceros",e adjetivos correlatos é o que eu costumo ouvir normalmente quando se referem aos meus textos publicados nesse blog.Rotina.Nenhum elogio, nenhuma crítica há mais para se dizer.Até porque, muitos me lêem, poucos escrevem: sociedade anônima.Ser sincero, é o que me resta e o que me basta para adjetivar meus pensamentos,e por extensão, todos os meus sentimentos.Assim, eu posso escrever as maiores barbaridades,e quase sempre sairei impune,como a ladra morena latina sensual (libidinosa) de sobretudo escarlate Carmem Sandiego (falando nisso, aonde é que está Carmem Sandiego?"ELA PODE ESTAR EM QUALQUER LUGAR, O PLANETA, É O SEU LAR!") dos desenhos animados do SBT dos anos 90 (madrinha bahiana cover,fato!), pois a sinceridade me acoberta os pecados e erros.Mais,ainda assim , eu sou realmente "sincero" comigo mesmo?O que é "sinceridade" afinal?
Nem sempre foi assim.Eu não quis ser "sincero",me transformaram em "sincero".Me rotularam assim,e assim fiquei.Quando você nasce, se reproduz, e morre e consegue encontrar o seu papel social no grande teatro chamado "sociedade humana", você logo aprende duas regras de ouro: 1- Mentir não é bom, é necessário para a coesão do tecido social; 2-Qualquer coisa que destoa da primeira regra, é maléfica ao organismo humano. Assim,tudo e todo aquele que não lê as regras, é excluído do jogo.É inocente, idiota, babaca.E assim,eu me tornei "sincero".
Nunca tive "noção" das coisas:Afinal,como tentar ser sociável se a sociabilidade escapa de você?Eu,o "sem-noção", fazendo coisas para ser notado. Então na escola eu era o "besta", o "idiota",o que não era esperto...O nerd. Aquele que quando recebia um papel na peça social,era o eterno destinado ao papel de "amigo", quando muito, pelo simples fato de que, como eu não podia lutar contra eles, e me cansava, ficava quieto...e na selva, alguém que fica parado,não grita, só move os olhos, respira o suficiente para sobreviver sem ser notado em demasia e não é pedra, ganha a função de "conselheiro",de "ouvinte", de "amigo".A voz de todos aqueles que não tem , ou fingiam, não ter voz.O "sincero".
Vitmismos?Mágoas passadas a parte?Préterito Imperfeito?Não sei dizer ao certo, o fato é que "eles" viam aos montes,como os pássaros que voam para o sul, fugindo do Inverno.Alguns hipócritas sociais, outros sinceros amigos.Conseguiam sua droga, e seguiam em frente.Sem mim, pois, ficava sempre para atrás, vendo a caravana passar.E esperava um dia ela voltar...Esqueciam de imediato de mim.Não era conveniente estar ao lado de alguém "sincero", o tempo todo.Ele que ficasse ali,a disposição, a sofrer pelos outros, enquanto se mantinham a zona de conforto de todos. A acumular todo o peso do globo terrestre, tal como o titã Atlas.É fato:O cordeiro de Deus sempre há de ser crucificado, por ter piedade de nós: Esse foi o destino do primeiro homem honesto da Era Cristã.Não seria diferente nos tempos atuais...
Mudam-se os romanos súditos de Caeser e os fariseus do Templo de Jerusalém, mantêm-se velhos hábitos.Meu corpo cresceu, mas, minha mente não amadureceu no mesmo ritmo. Um meninão,diria beth!Conseguir fazer amigos, amigos que estão comigo há mais de dez duros anos de depressões e humilhações diversas, meus irmãos espirituais foi um milagre pessoal: 4 Milagres de Deus e das relações humanas que estiveram ao meu lado,e me ensinaram muita coisa até hoje.Mais,não eram amigos fáceis, pois eu não era um ser fácil,e passei assim, em diversos colégios, sendo o "excluído" de todos os subgrupos sociais.
Ocupei assim,a esfera mais baixa da sociedade de castas adolescente-juvenil, bem antes do termo dahlit ser moda no Brasil.Sem namoradas e virgem até depois da época dos vestibulares, enquanto os meus coleguinhas espertos gastavam suas lindas mesadas em raparigas profissionais ou não, em lan houses e em festas.Como um filho de um sofrido aposentado de uma estatal privatizada no Nordeste poderia participar disso?A exclusão financeira une-se a exclusão social.E assim cheguei a faculdade pública, aonde folcloricamente me denominaram e me denominam de "perguntinha", por ser o incoveniente das perguntas consideradas "idiotas".
"O problema Diego, é que você desafia gigantes!", foi o que um xará meu da graduação, do turno da noite, me falou como ele entendia o fato de quase todos os professores me odiarem (e discentes idem).É,talvez eles tenham razão,realmente fossem idiotas as perguntas que eu fiz.E algumas são motivos de risos folcloricamente escondidos, ou declarados em minha cara. Foi assim que acumulei tanto quanto o velho Scrooge,e me tornei como ele avarento, arrogante, egoísta...e cruel.Um menino que se tornou velho,antes de perceber...como Benjamin Button.
E assim,morrem-se os amigos,e se instala a depressão,que só faz acumular.Por um breve interregno de felicidade em meu primeiro namoro,mergulho de cabeça na tristeza cada vez mais profunda, era o preço a se pagar por confundir gigantes com moinhos de vento...até que.
Alguém que eu acreditava me salvar, me fez emergir para fora d'água.Um ser tímido,em corpo negro celta.Poeta,tímida,e mulher.Eu aticei nela apenas o equilíbrio,em mim, fez explodir o vulcão sentimental. Fui violento, passional, intenso, imaturo...porque havia chegado a idade de o ser.Porque eu não queria mais ser "sincero", como eles, mas sincero como eu sou.Transparente,alma limpa,direto.Sem meias palavras.Sentir era meu verbo...Amor,meu substantivo.
Mas,um verbo em préterito imperfeito carrega em si não o presente, mas, o peso de seus tempos verbais.Não há futuro do presente nem presente indicativo para indivíduos assim.E eu conjugava os verbos dor, usar, odiar, magoar, sempre na primeira pessoa do singular.Não havia segunda pessoa do plural.Apenas pronomes possessivos.E Palavras mordazes, que machucam tanto, como diria Renato Russo.E levavam a nada como sempre.Até...
Ela conjugar o verbo CANSAR, na primeira pessoa do singular do préterito presente.E ela dizia: Já lhe dei meu corpo,minha alegria. Estanquei meu sangue, quando fervia.Olha a voz que me resta.Olha a veia que salta, Olha a gota que falta pro desfecho da festa...E eu ainda insistia em conjugar PRENDER, no presente.Então ela me respondia: Por favor,Deixei em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa.E qualquer desatenção faça não...pode ser a gota d'água.Mas,já era pretérito,e o que eu achava "mais-que-perfeito", nem perfeito chegou perto de ser.E foi assim,sinceramente, que me perdi:derramando um copo amargo de coléra. A gota d'água.
Eu sou sincero.Nunca me dividi em personas e eus.Ou não?Talvez eu tenha sido os Estados Unidos de Diego Costa:Uma federação de personalidades, sobre a forma de uma ditadura totalitária republicana e presidencialista de um eu despótico e tirânico.Um ID sem freios de superegos,pois o ego jaz ausente. My self is dead."Você nunca vai mudar, é da sua natureza",ela me disse uma vez.Sejamos sinceros,honestamente, pava você meus leitores anônimos: Eu mudei?
É a verdade que assombra,o descaso que condena... A estupidez é o que destrói!Vejo tudo que se foi, e o que não existe mais....Me sinto estranho...tenho os sentidos já ausentes, o corpo quer a alma entende?E assim em mim, as mágoas se foram uma a uma, e o vázio permanece.Mar de Serenidade. Estranho a presença do passado tão recente em laboratórios de informática, em chats de bate-papo, em logomarcas de blogs.Pode ser a gota d'água.A vida segue,e assim,sinceramente,somos "bons amigos"?.Talvez não creia, pois Essa é a terra de ninguém!Sei que devo resistir...Eu quero a espada em minhas mãos!Não me sinto mais mal-do-século como antes,mas,sinto algo que não sei definir...vertigem,é o mais próximo que posso dizer.Como os chilenos que subiram rapidamente da escuridão para a noite iluminada de refletores, respiro ainda o ar artificial e uso óculos escuros para ver o real, por medo de me cegar com suas luzes, mesmo sendo noite no mundo público.Uma torcida toda me esperava impaciente lá fora da caverna,meu universo particular,e eu ainda de óculos escuros.Quem não tem colírio,usa óculos escuro, minha mãe já me dizia para eu não me descuidar,e também o velho Seixas da Bahia.
Uma vez, eu disse aos meus leitores incautos: Só 10% do que digo é mentira.Responda se puder,Melissa:Só 10% de mim,não é verdadeiro, é ilusório?Então,talvez,eu não seja tão honesto?Sendo bastante sincero, meu caro leitor: Esse texto parece sincero para você?

Diego Costa

3 comentários:

  1. O qué é sinceridade?
    Sincera é uma palavra doce e confiável. Sincera é uma palavra que acolhe essa é uma palavra que deveria estar no vocabulário de toda alma. Sincera foi uma palavra inventada pelos romanos. Sincero vem do velho, do velhíssimo latim... Eis a poética viagem que fez sincero de Roma até aqui: Os romanos fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos, chegava-se a se distinguir um objeto um colar, uma pulseira ou um dado - que estivesse colocado no interior do vaso. Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso: - Como é lindo... parece até que não tem cera! "Sine-cera" queria dizer: "sem cera" uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes.
    Ser sincera não me impede de muitas vezes calar pra não ferir outras pessoas. Desonestidade? as vezes ser gentil é melhor que estar certo . Amo pessoas sinceras. mas amo ainda mais poder saber quando minha sinceridade, quando minhas paredes merecem ser expostas. sem riscos de magoar alguém quando apregoou minha sinceridade.
    Escrevo para exorcisar meus demônios. se 10 % é mentira, falácia ... Quem Liga ? por vezes nossos escritos são tachados como modismos. escrevemos e não somos lidos. escrevemos , somos lidos mas não somos compreendidos. somos lidos e compreendidos. Que maravilha não ?
    concordp com o sociologo francês Pierre Bourdieu quando fala da nossa pluralidade. Não sou naturalista pra pensar ."Você nunca vai mudar, é da sua natureza" antes de qualquer coisa, antes do lobo que alimentas , és ser humano propenso a mudanças.
    Particularmente eu "classificaria " sua escrita não apenas como sincera. ela é pertubada. caótica. demasiadamente humana. é preciso conhecer uma série de subtextos pra entender o que escreves . vc divaga de um Augusto dos anjos a Paulo Coelho . você transita assim como dante Do inferno ao purgatório e para temporariamente no paraíso .
    Eu não sei se 10 % seu é ilusório. mas de uma coisa eu tenho certeza: são seus não importa a porcentagem !
    mel

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