Pesquisar este blog

domingo, 31 de outubro de 2010

100 Censuras


"Que cem flores desabrochem!"
Mao Tsé-Tung, líder revolucionário chinês.

Eu tenho palavras que eu não posso dizer.Eu tenho nomes que não posso chamar.Eu tenho diversos porquês que tenho que responder, para apenas dizer, que não posso falar. Eu um dia penso em  escrever, mas como escrever o que não posso nominar.Nominar com as palavras que me deram de ter, de ser para ser, poesia fazer diante das pedras e do mar. Eu tenho mulheres que me dizem que está tudo bem.Que tanto está bem, que até melhor que eu está.Mas, sinto dizer que na ânsia de proteger e a mentira envolver, a perna curta tropeça.
Elas me dizem aparetemente com certeza que tudo está bem, mas sinto que aparentemente com certeza dizer que eu sinto que nem tudo bem está. Eu sei o que todas elas me querem esconder, e só uma me ousa dizer, quando leio você, e suas letras de vela.Velas que impulsan naus que partem de Lisboa Portugal, vindo  dos ventos atlantes desse salgado mar.Velas que derretem promessas do santo que rezei,São Sebastião dos romanos cravejado de flechas, protege essa cidade de homens que fogem e que vivem de pecar.Os ex-votos de milagres que um dia sonhei, mas que dessa dor eu não pude me curar. Me preocupo com cada fase que a lua me revela ter, e com todo amanhecer que o sol pode dar.Sinto um frio que dá medo quando dia clarea,  a luz pálida que não acende e o orvalho que não seca, essas poesias que sempre escrevo, não consola meu tempo, e esse medo solar.Sinto que o bem querer que se quer proteger, quando sente a dor, em mim reverbera.Suas cartas distante não posso responder, os seus olhos chorosos de ser, lágrimas a me salgar.Lágrimas que não me pertencem pelo muito sofrer, sofrer que de muito ser cansei de provocar, provocar coisas que não quis que fossem por querer, mas que acabei por fazer,e  por muito me culpar. Eu queria também  saber proteger, mas, para nos proteger, eu tenho que me afastar. Quando toco te escrever, sentes o Quo Vadis Nero, e o sangue ferver, e o ódio inflamar.Me afastar de todo mal que eu possa fazer, pelo simples querer, de não poder falar.
Tenho me preocupado com tantos afazeres, e eles poucam me deixam tempo de sonhar.Sinto que tneho estudado tanto pra tanto fazer, sinto alegrias ás vezes em poder lecionar.Lecionar o locus amoenus, mediocritas aurea,fugere urbem e inutilia truncat.Todos os árcades que na escola guardei, agora ensinei, a meus alunos de fora.De fora desse mundo público que eu não governei, nesse universo que é meu particular.Particular o colégio que eu estudei, e  aprendi a ler, para apenas dizer, que não posso chamar.Chamar a menina negra que dança no ar, o sorriso moreno de moreno estar, que agora vive de olhos marcados pelo não querer, que me fazem sofrer, sofrer não ajudar.
Do Porto D'Ajuda escravos da Mina mandei.São Jorge da Mina, palácio de guerreiro, castelo de areia. Areia e espumas que brincam para Iémanja, Janaína e Oxum ,rainhas do mar.Do porto de Recife, escravo cheguei, e me venderam junto com as galinhas d'Angola. De Angola veio muitas embaixadas de reis, cortes de reis para cana cortar. Da Casa Grande a Senzala eu avistei, cana-de-açúcar moente de doce de cana melar.Melaço de água ardente cansei de beber, pra poder esquecer, das palavras me embriagar.
Proibida a censura, do que falei. Sei que tenho palavra que não posso contar. Todos os meus censores não cansam de me ler, e de palavras escolher para me censurar.Todos eles fiscalizam o meu escrever, nas suas salas de redes passam a falar, e ficam algum tempo a se debater, e suas conclusões do que fazer, e opiniões sobre mim, sempre a chegar. Por isso abandono de vez esse maldito fazer, de sempre repetir os assuntos que devo ocultar, e os sentimentos que carinhosamente eu guardei, e me magoei, devo abandonar.
Me despeço poeticamente de você, mas não esquecerei de um dia cartas mandar. Quando todo esse assunto morrer, poderes esquecer, e lembrar de perdoar. Te agradeço todos os conselhos que você me deu, e todas as vezes que você me fez chorar. Chorar por tantos motivos que já nem sei, porque eu os citei, apenas por citar. Já te peço perdão e pedi por todos que feri, feridas de fera ferida abertas a cicatrizar, devo o caminho da estrada seguir, te espero ver feliz, e um dia poder conversar. Conversas sem mágoas debaixo de alguma árvore que frutas dá, sobre um dia de sol de verão e ventos do mar, a brisa marinha que levanta a espuma das ondas, as asas das pombas, e a leveza da maresia. Que possamos estar junto de todos aqueles que amamos, e nesse dia possamos não nos magoar. E quem sabe um dia eu possa, dizer a palavra que me proibiram dizer...













SAUDADE.

Diego Costa Almeida.

Um comentário:

  1. Um texto belíssimo sem muita prolixidade,sem destilar veneno, sem terceiras e quartas intenções. Falando de Você e do que sente e mesmo eu nunca tendo defendido a Censura faço juz as recomendações. não só pelo outrem. Por você também. Cansamos do eterno ciclo e não de você. Ainda não desistimos e como diria CFA (e você sabe o quanto gosto dele) Gosto de tudo que soe a Uma Tentativa
    [...]
    Mell

    ResponderExcluir