Pesquisar este blog

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Babilônia (Lamentações de Jeremias)


Babilônia!Essa grande cidade de concreto e  sal,decadência dos homens.De mulheres desnudas de carnaval,de sombras dançantes.Atabaques de macumba e terreiros de negras danças. Sua gente constrói arranha-céus, edifícios de pedra, cal e aço.Rasga o ventre da terra para dela passar o canal dos dejetos impuros!
Dejetos que alimentam meninos de ventre inchados, duros de fome,e sujos.Cães de costelas salteadas, mães de olhos arregalados,de vígilias de crack e caledônias!A menina brinca com o ursinho, o judeu chora miudinho, o exílio de si em Babilônia!
Lamenta Jeremias!Lamenta a cidade construída por indústria de engenho e fumaça humanas, poluídas de rio e lama de mangue.Essa cidade que se recusa a morrer e descansar!Cheia de filhos que não são de Jáh, e jazem em jázigos sem epitáfio e covas rasas.Jazz!Música que toca os ouvidos dos negros jogados ao relento com seus sax´s numa sarjeta de brancos vestidos de homens porcos.
O ônibus cruza toda as suas ruas, seus jardins suspensos nas sacadas.Cheio de pessoas escravas, negreiras sem feitor.Amarguradas.Suas meninas já nascem prostituídas.Seus meninos bricam de assassinar.Babilônia,irmãos!Babilônia!
Me encontro longe de casa, muitas milhas de meu lar.Me exilei do sertão,em paus de arara.Cheguei nessa cidade de Nabucodonossor e Nabopalassar.E da lei, só senti o talião.Olho por olho, dente por dente.E cadeias dentadas de engrenagens moentes de cana de açúcar e carros sem cavalos.Movidos por mágica.Ou macumba.Coisas que se ouve ouvir apenas em cantatas de homens de longe, e que agora sei de ver.Passo a fome da seca pra passar a fome da cidade de pedra.
Alcança!Estende suas garras verticais pra esses céus cinzas!Produza ilhas de calor e de call centers, shopping centers, e pornô centers.Sex shop.Poemas e poesias desperdiçadas com papéis de cadernos e páginas virtuais.Cinemas.3D para ver a terceira dimensão.Vidros fumê para não ver a indigência.Blindados.Tanques e carros.Cercas e eletricidade.Cuidado com os cães ferozes.A rua que é deserta, deserta os homens que vivem nela.
A lua nem me vê, a chuva nem me molha.Mas alaga e derruba casebres nos jardins suspensos da desigualdade dos filhos da Babilônia.E termina com os corpos que se estendem,choram,e queimam.
Queime Babilônia!Com seus policiais,barracos,despejos,e crianças.Com seu néon.Com suas luzes.Leva ao alto a fumaça.Babilônia!
Dorme
queimada
essa
noite
sem
luar.

Diego Costa

Um comentário: